
2019
O chapéu estampado por um colorido tecido de chita é o ponto de partida para a conversa. Logo é revelado um motivo especial para o uso do acessório: uma homenagem às artesãs do Pecém. “Ele veio direto lá da praia”. O apreço pela arte do “feito à mão” entrega o propósito do trabalho e da vida de Geni Sobreira. Entusiasta do artesanato local, não por acaso ela é a fundadora da Rede de Mulheres Empreendedoras Sustentável (REMES).


A sigla REMES vem do ato de remar. Para as ‘’remistas’’, como elas se identificam, remar é a ação que traduz a ótica itinerante e metamorfósica que o movimento assumiu. ‘’Continuar remando, sempre’’ é o que conduz o barco destas mulheres.



As primeiras remadas aconteceram em 2002, quando Geni tornou-se a Presidente da Associação de Moradores do Bairro da Serrinha. A vulnerabilidade social e a violência doméstica identificadas entre ‘’as mulheres invisíveis’’ na comunidade foram fatores determinantes para o início das atividades de emancipação e independência financeira lideradas pela presidente.
O movimento se firmou de vez no ano de 2007, mas a fundadora explica que antes de se tornar REMES, o grupo de mulheres já realizava ações no bairro da Serrinha. ‘’Existiam as movimentações que a gente fazia na própria comunidade, como os desfiles nas ruas e as ações nas casas dos moradores. A Associação veio apenas para fortalecer e oficializar o que já existia.’’
Depois de oficializada, a REMES ganhou força. As poucos, as remistas se aperfeiçoaram em suas práticas individuais, identificando e definindo os projetos articulados dentro da própria rede, como a ação de reutilizar o óleo saturado para produzir sabão ecológico. ‘‘É um produto feito de resíduos 100% maléficos, que voltam 100% benéficos para estas mulheres. Para o meio ambiente, voltam 25% maléficos, com uma mudança positiva de 75%. Nós vendemos o sabão por dois reais, mas a nossa moeda não é o dinheiro.’’




A prática de reciclar resíduos sempre permeou as atividades desenvolvidas pelo grupo de mulheres. O movimento criou a Reciclarte, ação que realiza oficinas de artesanato utilizando produtos descartados e estimula, de forma lúdica, o consumo consciente. Seguindo uma cadeia sustentável, os materiais reutilizados são transformados pelas talentosas mãos das mais de onze mil remistas, gerando renda, impulsionando a autonomia feminina e movimentando a economia criativa das comunidades.


Os Círculos de Diálogos são os momentos da troca de vivência e luta entre as mulheres do grupo. É nesse processo dialógico que a mágica transformadora acontece, revelando e unindo as pequenas ilhas de REMES de cada região. ‘’Recuperamos o talento que foi esquecido e deixado no caminho, mostrando que existem outras pessoas que admiram e se interessam por sua arte. Queremos que a mulher tenha o seu produto, que ela ocupe outros espaços e se torne referência naquilo que faz.’’



Remando a favor do empreendedorismo sustentável enquanto empodera mulheres, a onda da REMES já alcançou 14 bairros de Fortaleza, 17 cidades do Ceará e 4 cidades do Brasil. Com ateliês de artesanato, rodas de capoeira, empresa de turismo com rota nos próprios bairros, teatro de bonecos e hortas comunitárias, a Rede de Mulheres Empreendedoras Sustentável desenvolveu o seu ”Turismo de Base Comunitária” e vem multiplicando os valores culturais e comerciais das comunidades, escancarando os talentos individuais que existem em cada uma delas.
